sábado, 29 de janeiro de 2011

O que o Ocidente dizia do Norte da África?

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Os povos da Tunísia, da Argélia e do Egito encontram-se de pé e de punhos cerrados contra seus governantes que implementaram medidas que causaram a precariedade de seu nível de vida. Reclamam liberdades também. Mas o principal combustível para o fogo que se alastrou pelo Norte da África foi sem dúvida as condições sócio-econômicas da maioria da população.

Convém, portanto, recapitular um pouco do que dizia o Ocidente sobre esses países e das medidas desses governos.


"Os relatórios de instituições independentes credíveis (Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, União Europeia, Programa da ONU para o Desenvolvimento) classificam a Tunísia como um caso de sucesso em termos de desenvolvimento global. Todos os dias há progressos nos vários domínios: educativo, social, político, económico."

- Lazhar Bououny, Embaixador da tunísia em Lisboa, entrevista ao Diário de Notícias, 2004. [1]

"Graças a uma onda de políticas liberalizantes, países como Argélia, Egito e Marrocos vivem um momento de prosperidade inédito, com efeitos na percepção externa e na atração de investimentos estrangeiros (...)"

"Como os países do Norte da África não têm recursos suficientes para tirar o grande atraso na área de infra-estrutura, a solução encontrada foi fazer parcerias com a iniciativa privada para colocar rapidamente em pé as obras prioritárias. O Egito seguiu esse modelo para erguer projetos como o aeroporto de Marsa Alam, localizado a 700 quilômetros ao sul do Cairo, às margens do mar Vermelho. Construído por uma empresa do Kuwait e aberto em 2001, Marsa Alam tem sido fundamental para impulsionar o progresso da região. O governo argelino, por sua vez, abriu em junho uma concorrência entre as empresas privadas para expandir seu sistema energético em 18%. A GE Energy, braço da americana General Electric, foi uma das vencedoras, ganhando o contrato de 937 milhões de dólares para a construção de uma estação de força equipada com turbinas a gás, com capacidade para 1 200 megawatts, que deve começar a operar em 2012."

Os trabalhadores africanos estão entre os mais baratos do mundo, e isso, pelo menos por enquanto, aparece como vantagem para os países da região, que passam a ser vistos como bases de produção avançadas dos europeus. Em janeiro, passou a vigorar um acordo de livre-comércio entre a Tunísia e a União Européia para produtos industriais. Desde então, as mercadorias fabricadas no país não pagam nenhum imposto para entrar nos países do bloco econômico - e vice-versa. A Tunísia já é um dos centros de produção da italiana Benetton, maior grupo fabricante de roupas da Itália. Após a assinatura do tratado de livre-comércio, a Benetton anunciou um investimento de 32 milhões de dólares em um novo complexo de produção, de 5 500 metros quadrados, previsto para ser concluído até o fim do ano na Tunísia."

- Matéria da Exame, 2008. [2]

"The success of Egypt’s ambitious programme of economic reform and liberalisation is demonstrated by GDP growth of around 7% for the past 3 years."

- Foreign and Commonwealth Office, órgão do governo inglês. [3]

"Entre as dez principais “subidas” destacadas no relatório também aparecem Nepal, Indonésia, Arábia Saudita, Laos, Tunísia, Coreia do Sul, Argélia e Marrocos, países onde os principais motores das realizações do IDH, segundo os dados, foram a saúde e a educação.

"Principais subidas" no IDH (1970 a 2010)
IDH geral: 7 - Tunísia, 9 - Argélia
IDH de saúde e educação: 5 - Argélia, 6 - Tunísia"

- Relatório de Desenvolvimento Humano 2010 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) [4]

"A Argélia é a maior economia do Magrebe, no norte de África, com cerca de 35 milhões de consumidores e taxas de crescimento de 3,1% em 2007, de 2,8% em 2008 e, apesar da crise, de 2,6% em 2009. A perspectiva de crescimento é de 4,6% em 2010 e 4,4% em 2011.
O crescimento da Argélia deve-se também ao facto de ter ultrapassado os anos de crise e de insegurança da década de 90, e de ter entrado, nos últimos anos, num período de grande estabilidade política e social.

As medidas de política económica, o programa de privatizações de mais de 1.200 empresas e as disponibilidades financeiras das vendas de petróleo e gás, têm permitido reformas sociais e económicas com vista a melhorar as condições de vida da população e, criando assim, oportunidades de negócios para os empresários portugueses."

- Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, 2010 [5]

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[1] "Tunísia soube fazer frente ao extremismo" (24/10/2004):
http://www.dn.pt/inicio/interior.aspx?content_id=586808&page=-1

[2] Vida do outro lado do mediterrâneo (04/09/2008):
http://app.exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/0926/mundo/noticias/vida-do-outro-lado-do-mediterraneo-m0167018

[3] Middle East and North Africa - Egypt - Economy (19/08/2010):
http://www.fco.gov.uk/en/travel-and-living-abroad/travel-advice-by-country/country-profile/middle-east-north-africa/egypt?profile=economy

[4] Nos últimos 40 anos, progresso veio para todos os países; Omã lidera em avanço no IDH (04/11/2010):
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/internacional/2010/11/04/nos-ultimos-40-anos-progresso-veio-para-todos-os-paises-oma-lidera-em-avanco-no-idh.jhtm

[5] ABC Mercado Argélia
http://www.atp.pt/noticias/detalhes.php?id=426
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