segunda-feira, 26 de julho de 2010

O liberalismo é uma ideologia

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Embora a afirmação acima seja de uma obviedade tão grande que beira a banalidade, se faz pertinente trazê-la uma vez que é professada pelo intelectual liberal mais festejado da atualidade, Ludwig von Mises, além de, em inúmeras oportunidades, nos depararmos com governos, políticos e pensadores propalando os pressupostos liberais (ou neoliberais) como se fossem verdades biológicas e acusando seus críticos de serem os "ideológicos".


"O liberalismo não é religião, nem uma visão de mundo, nem um partido de interesses especiais. Não é religião, porque não exige fé nem devoção, porque não há nada místico nele e porque não professa dogmas. Não é visão de mundo, porque não tenta explicar o cosmo e porque não diz coisa alguma, e não procura dizer coisa alguma sobre o significado e o propósito da existência humana. Não é partido de interesses especial, porque não fornece, nem busca fornecer qualquer vantagem especial a quem quer que seja, indivíduo ou grupo. É algo totalmente diferente! É uma ideologia, uma doutrina da relação mútua entre os membros da sociedade e, ao mesmo tempo, aplicação desta doutrina à conduta dos homens numa sociedade real."

- Ludwig von Mises em sua obra "Liberalismo"


Claro que cabem ressalvas a algumas afirmações do trecho citado. Por exemplo, o "liberalismo não é religião" porque "não exige fé nem devoção", isso é óbvio em tratando de um Deus, mas a "fé e devoção" dos liberais no mercado auto-regulado é de um fundamentalismo tão insano quanto o de qualquer religião. O mercado tem humor (ele fica nervoso, eufórico, etc), ele pune os "infiéis", etc. Ainda pretendo desenvolver mais sobre isso no futuro.

Outra afirmação que chega a ser contraditória é a de que o liberalismo "não é visão de mundo" e nem busca "explicar" as coisas. O que então o próprio Mises pretendia nos seus trabalhos que analisavam a economia, a política e as relações sociais humanas?

Mais frágil e contraditória ainda é a sua assertativa sobre o "liberalismo não ser um partido de interesse especial" sendo que o próprio Mises buscou argumentos para dar uma função social aos capitalistas que podem viver sem trabalhar, além de ter afirmado que o objetivo do liberalismo era a monarquia parlamentar, ou seja, um arranjo político que garantia privilégios para grupos e indivíduos na sociedade.
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