sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Golpista admite ilegalidade e busca explicação mofada para o golpe

.
Em entrevista ao jornal argentino Clarín, Roberto Micheletti, o líder dos golpistas hondurenhos, admitiu que a deposição de Zelaya foi ilegal, mas justificou com argumentos do tempo da Guerra-Fria.

"Depusemos Zelaya por seu esquerdismo (...)"; "Deu uma guinada para a esquerda, colocou comunistas no governo e nos preocupou", justificou Micheletti.

Ver ameaça comunista no Zelaya é tão, ou mais, risível quanto terem visto no João Goulart em 1964!


Abaixo, segue a entrevista traduzida:

Restivo: A proposta de San José, do presidente Oscar Arias, inclui a restituição condicionada de Zelaya.

Micheletti: É apenas uma iniciativa, não venham a dizer-nos o que devemos fazer.

Há negociações, ou buscam ganhar tempo até a eleição de novembro? A comunidade internacional já disse que não reconhecerá essa eleição convocada por vocês.

As eleições estão marcadas desde 2008.

Não procuram ganhar tempo expulsando a OEA?

Uma missão assim pode entrar na Argentina, sem documentos? Não tinham permissão. Somos um país soberano, que fique bem claro.

Por que o Exército fechou os meios de comunicação opositores?

Foi em base ao decreto (de estado de sítio). Incitavam à violência e à guerrilha.

Seu regime está totalmente isolado, até do FMI.

E por isso devemos resignar a nossa dignidade? Vocês, na Argentina, não foram à guerra das Malvinas por dignidade, sem importar a pressão externa?

Era uma ditadura militar.

Independente do que seja. A dignidade nacional existe. Terias permitido que Zelaya fizesse o que fez?

Depor um presidente é um golpe de Estado.

Nosso único erro foi tirá-lo da forma como o destituímos. No resto, agimos conforme a lei. Ele violava a Constituição ao buscar uma Constituinte para uma reeleição. Se o prendêssemos e o deixássemos aqui, teria havido mortos. Foi tirado do país, mas agora voltou.

Não acredita que estão debilitando a democracia na região?

Se um presidente viola a lei, é corrupto, dá o direito ao povo de reclamar. Nós lideramos esse pedido.

No Brasil, na Argentina ou nos Estados Unidos foram usados métodos institucionais frente à crise como as que você tenta descrever.

Nesses casos, o único que fez a coisa certa foi Lula, retificou o seu rumo.

Não entendi.

Outros mudaram a Constituição, queriam perpetuar-se, como Zelaya.

Continuo sem entender. Mas insisto com o Exército. O general Vázquez recordou a relação de Pinochet com Allende, primeiro leal e depois o depôs com as armas.

Pedimos a Zelaya para não forçar a Constituição. Roubou 700 milhões de lempiras (36 milhões de dólares) e tirou de empilhadeira fundos do Banco Central para a sua reforma constitucional. Gastou milhões para passear de helicóptero e com assessores. Era corrupto, tinha vários sem-vergonhas.

Que papel exercem as Forças Armadas? Sua presença inunda as ruas.

Não estão no governo, defendem a democracia, assim como a Polícia. É para cuidar da reação incendiária de Zelaya. Elas nos apoiaram, pois íamos ao abismo.

Mas tiveram um passado de violações dos direitos humanos e anticonstitucional. Por que lhes dão tanto poder agora?

Não, não. Faz 29 anos que se adaptaram. Hoje levam e trazem as urnas nas eleições, respeitam o poder civil, são um orgulho.

Foi a corrupção, a Constituinte ou tentativas de mudanças sociais o que levou ao golpe?

Depusemos Zelaya por seu esquerdismo e corrupção. Ele foi presidente, como liberal, como eu. Mas se fez amigo de Daniel Ortega, Chávez, Correa, Evo Morales.

Perdão...

Deu uma guinada para a esquerda, colocou comunistas no governo e nos preocupou.

Com 75% dos pobres e um sistema esclerosado, as mudanças sociais não se fazem necessárias?

Pode haver reformas, inclusive constitucionais, menos em 3 artigos: território, forma de governo nem reeleição. Mas o que Zelaya prometia era pura farsa.

Como se pode resolver isso e avançar tendo tão baixa pressão fiscal, sem tocar interesses políticos, econômicos, religiosos tão fortes, sem mudanças mais de fundo?

Pode-se falar, sem brigar. Antes de sair assinarei decretos sociais. O Congresso, além disso, pode obrigar as empresas a pagar mais impostos se for preciso, por exemplo.


O original encontra-se em:
http://www.clarin.com/diario/2009/09/30/elmundo/i-02008984.htm