É comum ler e ouvir de
anticomunistas que o economista liberal, Ludwig von Mises
(1881-1973), previu o colapso da União Soviética. Como aporte é
citada a obra O Cálculo Econômico sob o Socialismo [1],
escrita em 1920 pelo autor austríaco, na qual ele defende que o
socialismo é inviável por não comportar um “cálculo econômico
racional” devido à ausência de um livre mercado que possa
estabelecer um sistema de preços.
No entanto, em 1958,
Mises foi convidado para uma série de conferências na Argentina, às
quais se tranformaram em um famoso livro, chamado As Seis Lições
[2]. Na oportunidade o economista austríaco discorreu sobre o
socialismo e a questão do cálculo econômico e afirmou o seguinte
sobre a então União Soviética:
Provavelmente me perguntarão:
"E a Rússia? Como enfrentam os russos esse problema?"
Nesse caso, a questão muda de figura. Os russos gerem seu sistema
socialista no âmbito de um mundo em que existem preços para todos
os fatores de produção, para todas as matérias-primas, para tudo.
Por conseguinte, podem utilizar, em seu planejamento, os preços do
mercado mundial. E, visto que há certas diferenças entre as
condições reinantes na Rússia e as reinantes nos Estados Unidos,
frequentemente o resultado é que, para os russos, parece
justificável e aconselhável - de seu ponto de vista econômico -
algo que, para os americanos, absolutamente não se justificaria
economicamente.
A
"experiência soviética" - ou "experimento",
como foi chamada - não prova coisa alguma. Nada revela sobre o
problema fundamental do socialismo, o problema do cálculo. [3] (grifo nosso)
Como se vê a afirmação
de que “Mises previu o colapso da União Soviética” é um mito
que não corresponde às posições manifestadas pelo próprio autor.
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[1] O Cálculo Econômico
sob o Socialismo.
[2] As Seis Lições.
[3] As seis lições. 2.
Segunda Lição - O Socialismo.
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