Apesar da manutenção do parcelamento dos salários e há poucos dias da Assembleia Legislativa apreciar uma série de projetos do governo Sartori (PMDB) que atacam os serviços públicos, os servidores estaduais e o conjunto da população, a burocracia sindical encerrou, na última sexta-feira (11/08), a greve das 44 categorias de servidores que já durava duas semanas – e que só levou esse tempo por pressão da base, em especial dos trabalhadores em educação.
A reunião do chamado
“Movimento Unificado dos Servidores Estaduais” que decidiu pelo
fim da greve contou apenas com as burocracias sindicais, como atesta
a foto abaixo, extraída do site da Federação Sindical dos
Servidores Públicos no Estado do RS (Fessergs) [1]:
Para mascarar a
desmobilização convocaram paralisações para as próximas duas
terças-feiras (15 e 22), dias de possíveis votações no parlamento
gaúcho, e mais alguns dias de paralisações em mesmo número de
parcelas de salários anunciadas pelo governo, caso sigam ocorrendo.
Assim se Sartori anunciar pagar em duas parcelas, serão dois dias de
paralisações, se for três parcelas, três dias de paralisações,
e assim sucessivamente. Simplesmente ridículo!
O ponto alto, da baixeza
das direções burocráticas, se deu na assembleia do sindicato dos
trabalhadores em educação (CPERS), na sexta-feira (11). Nela, a
direção petista do sindicato - que já havia declarado na imprensa
a disposição de acabar com a greve dias antes da assembleia –
roubou o resultado da votação no ponto da continuidade ou não da
greve, se recusou a fazer a contagem dos votos e diante da revolta da
oposição e da base encerrou a assembleia declarando as suas demais
propostas aprovadas.
Ao desmontar a greve dos
servidores a burocracia sindical deu o sinal verde que o governo
Sartori necessitava para implementar o seu duro ajuste. A declaração
na imprensa do Secretário da Educação, Vieira da Cunha, falando do
final da greve dos trabalhadores em educação e da recuperação dos
dias parados antes do resultado da assembleia da categoria e a
reunião do governador com deputados do PT para tratar do ajuste
reforçam a desconfiança de jogada ensaiada entre o governo estadual
e dirigentes sindicais burocráticos. [2]
O ajuste de Dilma
passa pelo ajuste dos governadores
Muitos têm se perguntado
como é possível que dirigentes sindicais ligados ao PT atuem de
forma pelega diante de um governo do PMDB (concorrente histórico dos
petistas no Estado) e mais ainda: de um governo muito similar ao de
Antônio Britto. Para compreender essa aparente anomalia é preciso
verificar quais são os compromissos políticos que norteiam esses
dirigentes.
Como petistas eles estão
comprometidos com o governo Dilma. A estabilidade, pelo menos do
ponto de vista do andar de cima, da gestão da presidente passa por
sua capacidade em implementar o ajuste fiscal. E o sucesso dessa
empreitada passa pelo sucesso do ajuste fiscal aplicado pelos
governadores nos Estados, uma vez que boa parte dos recursos que
cortam da população em nível local são drenados para o pagamento
da dívida pública com a União que, por sua vez, os repassa para os
banqueiros e especuladores.
No dia 30 de julho a
presidente Dilma reuniu-se com os 26 governadores para pactuar o
ajuste fiscal, no que ficou acordado uma “ajuda mútua” entre as
partes. A sintonia dessa ajuda evidencia a similaridade daqueles que
no plano eleitoral e de discursos tentam se apresentar como
distintos. Governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo não
vacilou em declarar-se favorável ao que firmaram os governadores
presentes: “apoio ao Estado democrático de direito, à
estabilidade política e econômica e o apoio ao ajuste fiscal”.
[3]
Não é casual a falta de
empenho do governador Sartori e de sua base de deputados, seja no Rio
Grande do Sul, seja em Brasília, quando a União tranca as contas do
Estado pelo atraso do pagamento da dívida estadual. Se durante o
governo Britto Sartori apoiou o acordo da dívida que permite trancar
as contas dos estados, nem Lula e nem Dilma reviram esse acordo que
prejudica as populações locais para garantir os lucros dos
banqueiros e especuladores.
Mas como garantir o
cenário acordado no andar de cima se o ajuste fiscal ataca o nível
de vida da população aumentando os conflitos sociais? É aí que
entram os dirigentes sociais e sindicais burocráticos e
comprometidos com o governo Dilma: a sua tarefa é amortecer,
estancar e derrotar as revoltas populares e das bases das categorias
de trabalhadores em greve.
No Paraná a rejeição
popular ao governo do tucano Beto Richa ganhou as ruas, estádio,
teatro, praça de alimentação de shopping, evento esportivo
juvenil, ou seja, se alastrou de tal modo que se dirigida
corretamente teria ocasionado a queda do governador odiado. Mas a
burocracia sindical comprometida com o “Fica Dilma” e o seu
ajuste fiscal não poderia ir até as últimas consequências, e não
o foi.
É óbvio que se seus
compromissos políticos não o permitem ir até o fim contra um
concorrente direto do PT em nível nacional tampouco irão contra um
aliado nacional, cuja harmonia foi selada no Congresso do próprio
PT. Logo, Sartori não será devidamente enfrentado por essas
direções.
Será a manutenção do
levante da base organizada e mobilizada que romperá o dique de
contenção das lutas construído por essas direções que atuam como
agentes dos governos nos movimentos sociais e sindicais. Foi por
pressão da base que tivemos dias de greves no Estado. Foi a
insatisfação da base que desfiliou o CPERS da CUT em plena gestão
de uma direção cutista.
Aquecem as chamas de
junho de 2013, no terreno sindical, e estas começam a fazer arder os
pés pelegos das burocracias sindicais. Assustadas e olhando para os
seus compromissos políticos estranhos aos interesses das categorias
de trabalhadores que deveriam representar, as burocracias tentam
apagar essas chamas de qualquer jeito e já começam a se queimar
gravemente. A direção do CPERS, com a sua atuação vil na última
assembleia, que o diga.
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[1] Movimento Unificado
permanece em "Estado de Greve". 10/09/2015.
[2] Sartori chama
deputados do PT para discutir projetos enviados à Assembleia.
11/09/2015.
[3] Após reunião com
Dilma, governadores prometem combater ameaças ao ajuste. 30/07/2015.
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