Diante do aprofundamento
do desgaste do Governo Dilma devido ao ajuste fiscal não faltam
aqueles que, dentro e fora do PT, tentam blindar a presidente com a
linha de separar os ministros burgueses do seu governo burguês.
Essa semana coube à
própria Dilma desmontar essa linha ao defender a permanência do
Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, cuja cabeça pediam alguns
petistas, como o senador Lindberg Farias:
“Este
é um país democrático, as pessoas podem pensar diferente. Dentro
de todos os partidos, você vê pessoas pensando diferente. Eu não
tenho a mesma posição do senador em relação ao Joaquim Levy. O
Joaquim Levy é da minha confiança, fica no governo”
E para não deixar
dúvidas de que o governo é burguês de conjunto e que seus
ministros burgueses atuam em consonância com a sua administração,
a presidente defendeu o ajuste fiscal:
“Se
você falar o seguinte, 'presidenta, o que que você quer? Eu quero a
aprovação (das medidas), eu espero a aprovação... Porque para o
Brasil virar esta página é fundamental que nós façamos um ajuste”
As medidas de ajuste
fiscal têm sido defendidas apaixonadamente como panacéia desde o
final das eleições de 2014, ganharam até o curioso slogan “Ajustar
para Avançar” na propaganda do governo federal e têm sido
defendidas publicamente por Dilma em inúmeras ocasiões, como no
Foro Empresarial das Américas, ocorrido na VII Cúpula das Américas,
no Panamá, em abril:
“Nós
estamos, no Brasil, fazendo um grande esforço de ajuste fiscal.
Adotamos medidas anticíclicas nesses últimos anos para evitar que
houvesse uma queda muito forte tanto emprego como na renda. Nós
esgotamos a nossa capacidade dessas medidas e agora temos de fazer
tudo o que for possível para continuar crescendo”
Não restam dúvidas de
que para derrotar o ajuste fiscal é preciso enfrentar o governo
Dilma de conjunto e não apenas os ministros nomeados e avalizados
pela própria presidente.
.
Considerado por seu
companheiro de partido, Aécio Neves, “o mais bem preparado
homem público” [1], o tucano Beto Richa se reelegeu gabando-se
de ter colocado em dia as contas públicas do Paraná e anunciando
que o “melhor ainda está por vir”. [2]
Porém, poucas semanas
após a eleição, o governador paranaense, alegando o contrário,
inicia um plano de ajuste fiscal [3] que adentra o ano de 2015. Em
fevereiro, com os professores na linha de frente, os servidores
públicos travam uma luta que se tornaria referência para os
trabalhadores de todo o país, conseguem evitar a votação do pacote
de ajustes e obtêm alguns benefícios. [4]
Mas, como todo o governo
que se encontra comprometido com o modo de produção capitalista e,
tendo em vista a crise econômica que se aprofunda, Beto Richa não
podia abandonar seus planos de ajustes - única forma de tentar
manter o processo de acumulação e reprodução do capital em crise
- e retoma o projeto de ataque à previdência pública dos
servidores estaduais.
Para aprovar o seu
projeto um obstáculo teria de ser vencido: a luta dos servidores com
os professores à frente. Assim, um terço das forças policiais do
Estado foram deslocadas para o Centro Cívico para promover uma
repressão que teria de ser exemplar, já que a luta de fevereiro se
tornou referência nacional. A repressão teve início ainda na
madrugada com tentativas de intimidação dos professores e
servidores que já se encontravam acampados nas imediações da
Assembleia Legislativa.
As cenas da ofensiva da
polícia contra os professores, dos mais de duzentos feridos, dos
colaboradores próximos do governo comemorando a repressão e as
tentativas de justificação por parte do próprio Beto Richa,
percorreram o país e até o mundo, gerando comoção, indignação e
uma onda de solidariedade.
O “Fora Beto Richa”
se espalhou, a crise política do governo se aprofundou, na linha do
“entregar os anéis para não perder os dedos” o próprio
presidente estadual do PSDB, Valdir Rossoni, emitiu uma nota
sugerindo a saída dos Secretários da Educação e da Segurança
[5], o que acabou ocorrendo na sequência, tendo saído também o
Comandante da Polícia. [6]
Beto Richa acreditou que
matando as flores conteria a primavera. Terminou por antecipá-la. O
“mais bem preparado homem público” emudeceu Aécio Neves
e prejudicou os planos do senador mineiro e do PSDB de capitalizar o
crescente desgaste do PT.
Por sua vez, a luta dos
professores e servidores paranaenses, embora duramente reprimida, não
foi desmoralizada. Segue sendo referência nacional, inspirando a
classe trabalhadora e intimidando governadores e prefeitos que adiam
momentaneamente seus planos de ajustes.
A onda de solidariedade à
luta dos professores e servidores do Paraná desmente uma certa “onda
conservadora” que estaria se espalhando pela sociedade brasileira
alardeada pelo petismo e até por alguns setores da esquerda. Fosse
este o caso teríamos a opinião pública aplaudindo a repressão e
não rechaçando-a e pedindo a saída do governador Beto Richa.
Enquanto difunde a tese
da “onda conservadora” o petismo vai atuando da mesma maneira que
os demotucanos. Em Goiânia, na mesma semana em que ocorreu a
repressão no Paraná, os professores foram agredidos pela Guarda
Municipal do Prefeito Paulo Garcia (PT), que ainda sugeriu que o ato
dos professores foi vandalismo. [7]
Não se pode confundir
polarização social com onda conservadora. As forças políticas e
sociais no país estão em disputa e é por isso que a direita
mostra-se abertamente - fenômeno típico de situações de crises.
A tese da “onda
conservadora” além de não se encaixar na realidade concreta pois
ignora as contradições sociais ainda serve para dissimular a
polarização social entre capital e trabalho fortalecendo o petismo
e suas medidas em benefício do capital, além de ocultar suas ações
repressivas como a citada agressão aos professores de Goiânia,
praticamente esquecida.
______________________________________________
[1] Aécio Neves faz o
elogio de Beto Richa, “o mais bem preparado homem público”.
05/05/2015:
[3] Em 9 de
dezembro de 2014 o Governo de Beto Richa aprova um pacotaço na
Assembleia Legislativa com as seguintes medidas:
“Taxação
de 11% aos/às aposentados/as com salários acima de R$ 4.390,00;
aumento de impostos de 12% á 25% para 18% ou 25% a alíquota do ICMS
sobre até 95 mil itens de consumo popular, em 40% a alíquota do
IPVA e em um ponto porcentual a do ICMS do álcool e da gasolina;
fim da autonomia financeira da Defensoria Pública e modificação da
escolha do defensor-geral, de voto direto dos defensores para lista
tríplice; autorização ao governo de se endividar ainda mais com o
fechamento de um empréstimo de U$ 300 milhões ao BID;
desregulamentação para o estabelecimento de Parceria Público
Privadas (PPP), entre outros projetos tratorados aprovados no dia de
ontem em Comissão Geral, um excrecência regimental da Alep.”
((DES)Governo Beto Richa e o Natal de Maldades. Nota da Direção
Estadual da APP-Sindicato, 10/12/2014. <
http://www.appsindicato.org.br/Include/Paginas/noticia.aspx?id=10864
> )
[4] No Paraná uma
lição inspiradora de luta contra o ajuste. 19/02/2015.