sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O custo do agronegócio

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Encontrei a matéria "Maldição da lavoura", que foi publicada pelo Correio Braziliense em 4 de janeiro, e que está disponível no site do agronegócio goiano, portanto uma fonte insuspeita.

Nela fica claro que, diferentemente do que afirmou Arnaldo Jabor no Jornal da Globo, não é o agronegócio que "segura a barra" do Brasil, mas ao contrário, ele é que tem a sua barra segurada pela sociedade brasileira:
"(...) a agenda do próximo presidente, segundo especialistas, é aumentar a produtividade sem ampliar os gastos públicos, deixando-o mais competitivo e com preços atraentes. O trabalho de quem assumir o Palácio do Planalto será corrigir, ou ao menos amenizar, a disparidade entre gastos e resultados obtidos."

Se não for avisado com antecedência o leitor pode ter a impressão de que estamos diante de um órgão estatal. A seguir outro trecho da matéria mostra o tamanho do custo do agronegócio para a sociedade brasileira:
"(...) os produtores rurais se beneficiarão com mais de R$ 60 bilhões em financiamentos, a maioria oriunda de bancos oficiais federais e bancos privados. Esses recursos, somados ao orçamento do governo para incentivar a agropecuária, chegam a quase R$ 170 bilhões, valor que será gasto somente para produzir a safra. O montante é R$ 13,2 bilhões maior do que a receita que pode ser obtida com a venda de toda a produção nacional em 2010 — estimada em R$ 156,8 bilhões."

Sem dúvida é muito dinheiro! Mas o apetite daqueles que "seguram a barra do Brasil" está longe de estar saciado:
"(...) é preciso que o governo melhore os incentivos", reivindica Clécio Klein.

A matéria também aponta que a produtividade do agronegócio está aquém dos elevados investimentos:
"Um levantamento do Correio mostra que, enquanto os custos tiveram um crescimento chinês nos últimos oito anos, o valor obtido com a safra e a produtividade dos agricultores se elevaram a taxas brasileiras. Para a safra 2009/2010, iniciada em julho deste ano, o custo para concluir a produção nacional será maior do que o valor que pode ser obtido com a venda dela. Os dados são do Sistema Financeiro Nacional e de bancos de dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
(...)
Enquanto o orçamento do crédito rural cresceu 335,2% entre 2002 e 2010, o valor bruto da produção — quanto vale a safra brasileira — expandiu-se apenas 7% em igual período.
(...)
Na comparação entre custo e resultado, pode-se dizer que a produtividade caiu: se na safra 2002/2003 o Ministério da Agricultura aplicou R$ 24,7 bilhões para incentivar uma produção que valia R$ 146,5 bilhões, seis safras depois foi preciso um volume de dinheiro quase cinco vezes maior — R$ 107,5 bilhões — para incentivar uma produção que cresceu pouco e não atingiu os R$ 160 bilhões."

Apesar da generosidade do Estado com o agronegócio, o professor de inovação e competitividade da Fundação Dom Cabral, Carlos Arruda, não tem dúvida de quem é o culpado pela disparidade entre gastos elevados e produtividade:
"(...) há problemas e o mais negativo deles é o de eficiência dos governos".

Enquanto isso a agricultura familiar é responsável por 70% da produção de alimentos no país e emprega 75% da força de trabalho no campo, mesmo recebendo bem menos incentivos do governo.


Maldição da lavoura (04/01/2010):
http://www.agronegocio.go.gov.br/index.php?pg=noticias&id_noticia=2146

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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Jabor, Caiado e o agronegócio

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Ontem no Jornal da Globo, Arnaldo Jabor depois de atacar duramente o MST e não questionar um milímetro a Cutrale - acusada de grilagem - ainda fez uma declaração de amor ao agronegócio dizendo que esse setor "segurou a barra" do Brasil.

Contrastando com a afirmação do jornalista, no final do ano passado o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), da bancada ruralista, deu uma declaração afirmando que o latifúndio precisava desesperadamente dos recursos do Estado.[1]

Jabor também não informa ao telespectador de que se a sociedade brasileira, que de acordo com Caiado "segura a barra do agronegócio", dependesse do mesmo passaria fome pois 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros são produzidos pela agricultura familiar[2] , o que mostra o acerto da luta contra o agronegócio e pela reforma agrária.



[1] Sem dinheiro no Orçamento, ruralistas preveem crise no abastecimento (28/12/2009 - 07:08:18):
http://www.clicabrasilia.com.br/portal/noticia_new.php?IdNoticia=131122

[2] Agricultura familiar responde por 70% dos alimentos do país (16/10/2008 - 15h07):
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2008/10/16/ult5772u1113.jhtm
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Austrália quer monitar a internet

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Mais uma "terra da liberdade" está em vias de submeter seus cidadãos à um Estado policialesco na internet. Depois da Suécia, da Alemanha, dos Estados Unidos e da Inglaterra agora é a vez da Austrália.[1]

O governo australiano quer criar um filtro para a internet e colocar os sites considerados indesejados em uma "lista negra", tudo para "proteger" a população, em especial as crianças.(tsc!)
O sistema de filtragem da Austrália seria tão rígido que só encontraria paralelo no controle praticado pela China.[2]

Ativistas de websites estão se organizando e promovendo protestos contra a medida pretendida pelo governo. Um deles aconteceu esta semana quando foi criado o "dia do apagão", no qual vários sites se retiraram do ar.[3]
A preocupação é pertinente. No ano passado vazou uma "lista negra" com 2 mil sites considerados indesejados pelo governo. Entre eles estavam sites de poker, viagens, páginas do Wikipédia, de dentista e até religiosos(cristãos).[4]

O governo objetiva aprovar a filtragem obrigatória da internet antes das eleições para o parlamento que ocorrem ainda neste primeiro semestre.[5]




[1] 40 anos da internet: cresce o controle!
http://blogdomonjn.blogspot.com/2009/09/40-anos-da-internet-cresce-o-controle.html

[2] Obscenidades: “Austrália vai impor filtro de internet” (16/12/2009):
http://br-linux.org/2009/obscenidades-australia-vai-impor-filtro-de-internet/

[3] Websites fade to black in censorship protest (26/01/2010):
http://www.smh.com.au/technology/technology-news/websites-fade-to-black-in-censorship-protest-20100126-mvsw.html

Over a Hundred Australian Websites Join "Internet Blackout" to Protest Against Web Censorship (27/01/2010 - 12:50):
http://topnews.net.nz/content/21888-over-hundred-australian-websites-join-internet-blackout-protest-against-web-censorship

[4] Will Australia join China in censoring the internet? (26/01/2010 - 12:52):
http://www.thefirstpost.co.uk/58870,news-comment,technology,will-australia-join-china-in-censoring-the-internet-great-blackout-protest

[5] Austrália perto de censurar internet (15/12/2009 - 09:57):
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI110829-15224,00.html

O site dos ativistas australianos:
http://www.internetblackout.com.au/
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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Honduras: Justiça absolve militares

"Yo siempre confié en la justicia hondureña"
General golpista Romeo Vásquez Velásquez, após a absolvição[*]



Muitos direitistas atabalhoados negaram o golpe de Estado em Honduras se escorando em uma suposta constitucionalidade da destituição de Zelaya amparada na Justiça. Não cabe aqui repetir os motivos pelos quais houve sim golpe naquele país.

Esses mesmos direitistas reconheciam que a ação dos militares, ao expatriar o presidente para a Costa Rica, constituía uma ilegalidade à luz das leis hondurenhas. Mas de acordo com eles essa seria a única ilegalidade, que de resto todo o processo teria sido legal. Claro que a expatriação não foi a única ilegalidade. Desde as acusações imputadas à Zelaya, passando pela sua destituição e até a nomeação de Micheletti, em todos esses processos a lei foi espezinhada por seus propalados defensores.

Mas como ficam os direitistas atabalhoados que diziam que a ação dos militares foi a única inconstitucionalidade agora que a Justiça que eles tanto confiaram como a guardiã da lei e da razão absolveu àqueles que a própria direita tinha condenado?



[*] “Cumplimos con la misión”: Vásquez Velásquez (26/01/2010):
http://www.latribuna.hn/web2.0/?p=90468

Justiça de Honduras inocenta militares que depuseram Zelaya
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/01/100126_honduras_suprema_cq_np.shtml
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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Honduras: golpista vira "deputado vitalício"

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No último dia 13, o Congresso golpista hondurenho condecorou Roberto Micheletti como "deputado vitalício", por ter sido eleito sete vezes deputado.
Deputados contrários ao prêmio se retiraram da cerimônia, realizada na própria casa legislativa, em protesto.
"Rejeitamos isso porque, na legislação hondurenha, não existe a figura do 'deputado vitalício'. A Constituição estabelece que os deputados são eleitos por voto direto e secreto do povo", justificou o deputado Marvin Ponce da Unificação Democrática (UD).[*]

Pelos "valiosos serviços prestados à pátria"[*] também foi entregue ao golpista uma placa de ouro como condecoração oficial da Grande Cruz Extraordinária.

O "grande homem e grande cidadão de Honduras"[**], conforme caracterizado pelo Congresso, Micheletti ainda foi considerado o arauto da democracia e até do pacifismo pelo presidente do Legislativo, José Saavedra:
"tem se destacado por sua inspiração democrática, liderança natural e respeito à constituição das leis" (...) "sob sua liderança se manteve a paz no país".[**]

Até parece piada: Micheletti, o homem que quis esticar o mandato do presidente Roberto Suazo Córdoba em 1985, e o governo que aplicou medidas de exceção contra o seu povo, é agora elevado a categoria de democrata e pacifista:
"se impôs o bom senso e a razão"[**], agradeceu Micheletti aos seus pares golpistas que montaram mais este circo.



[*] HONDURAS: MICHELETTI É DECLARADO DEPUTADO VITALÍCIO PELO CONGRESSO (14/01/2010 - 14:31):
http://www.ansa.it/ansalatinabr/notizie/notiziari/amcentr/20100114143135011161.html

[**] Congresso dá a Micheletti título de 'deputado vitalício' (14/01/2010 - 14:43):
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,congresso-da-a-micheletti-titulo-de-deputado-vitalicio,495679,0.htm

Micheletti, nombrado diputado vitalicio (14/01/2010 21:34):
http://www.elmundo.es/america/2010/01/15/noticias/1263522892.html
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O "revolucionário" laranja azedou!

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Em 2004 a Ucrânia foi palco de uma grande mobilização popular que combateu a fraude na eleição presidencial e que ficou conhecida como "Revolução Laranja". Nesse processo foi alçado ao poder Viktor Yushchenko.

No pleito Yushchenko tinha a preferência aberta dos Estados Unidos tanto que em 2005 recebeu da fundação JFK o prêmio "Perfil de Coragem", ao passo que o seu concorrente Viktor Yanukovych era apoiado pela Rússia.

O governo pró-imperialista do "laranja" Yushchenko foi marcado por corrupção[1] e crise econômica aguda, decepcionando profundamente a população do seu país. Já em 2005 a sua popularidade era de apenas 14,3%.[2]

O troco veio no último domingo, 17: Yushchenko ficou em quinto lugar com míseros 5,45% dos votos[3] em um pleito marcado pelo ceticismo da população.[4]

Em primeiro lugar ficou Viktor Yanukovych, o mesmo que pretendia se eleger de forma fraudulenta em 2004, com 35,32% dos votos que disputará o segundo turno com a primeira-ministra Yulia Timoshenko, 25,05%. Dessa vez o próprio partido de Yushchenko reconheceu a lisura da eleição.[5]

O vale tudo eleitoral já começou: Timoshenko já prometeu cargo ao banqueiro Serguei Tiguipko, que ficou em terceiro lugar na disputa, em troca de apoio.[6]

O segundo turno das eleições ucranianas se realizarão no próximo dia 7 de fevereiro.



[1] Escândalo obriga Yushchenko a cancelar viagem para a Polônia (06/09/2005 - 11h40):
http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2005/09/06/ult1808u48415.jhtm

[2] Desilusão escurece o aniversário da revolução laranja (20/11/2005 - 10h42):
http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI762654-EI294,00.html

[3] Ucrânia: Yanukovich venceu no primeiro turno com 10 pontos de vantagem (oficial) - (19/01/10 - 17h54):
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1454294-5602,00-UCRANIA+YANUKOVICH+VENCEU+NO+PRIMEIRO+TURNO+COM+PONTOS+DE+VANTAGEM+OFICIAL.html

Pleito presidencial na Ucrânia coloca ponto final na Revolução Laranja (16/01/10 - 09h25):
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1450172-5602,00-PLEITO+PRESIDENCIAL+NA+UCRANIA+COLOCA+PONTO+FINAL+NA+REVOLUCAO+LARANJA.html

[4] Ucranianos vendem voto para presidente na internet (12/01/10 - 18h22):
http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,MUL1444209-6174,00.html

[5] Partido de Yushchenko reconhece eleições como "limpas" e "democráticas" (18/01/2010 - 12h42):
http://noticias.bol.uol.com.br/internacional/2010/01/18/partido-de-yushchenko-reconhece-eleicoes-como-limpas-e-democraticas.jhtm

[6] Premiê da Ucrânia oferece cargo a candidato em troca de apoio (20/01/2010 - 11:27):
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,premie-da-ucrania-oferece-cargo-a-candidato-em-troca-de-apoio,498659,0.htm

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Lula: o Estadista dos ricos!

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Amado pelas classes dominantes globais e pelo imperialismo desde os tempos de George W. Bush na Casa Branca, Lula definitivamente foi "adotado" como modelo pelos ricos.

Depois que Barack Obama chamou o Presidente brasileiro de "o cara", a bajulação das classes dominantes se sucedeu como uma bola de neve: The Economist, Der Spiegel, Financial Times, Newsweek e o Primeiro Ministro espanhol, cada um da sua forma, amplificou a campanha global de "canonização" de Lula.

Óbvio que toda essa campanha não se dá pela "maravilhosa" administração que o Governo Lula faz no Estado brasileiro. Todo o brasileiro sabe da real situação econômica e social do país. Porém a origem social e política de Lula confunde setores da classe trabalhadora - dentro e fora do país.

As classes dominantes globais sabem disso. E é alicerçado nisso que buscam "canonizar" e apresentar como modelo um governo que serve aos seus interesses. Foi por isso que deram a Lula, em novembro do ano passado, em Londres, o prêmio Chatham House pela atuação "estabilizadora" do seu governo na América Latina.

Agora, os ricos, no seu fórum, entregarão a Lula, com pompas e honrarias, o prêmio de "Estadista Global". É isso mesmo: as classes dominantes globais aproveitarão os holofotes do seu evento máximo para promover mais uma vez o seu "cara". (Yahoo Notícias, 20/01/2010)





Lula receberá prêmio inédito de Estadista Global:
http://br.noticias.yahoo.com/s/20012010/25/politica-lula-recebera-premio-inedito-estadista.html

Jobim revela o real caráter da Missão de "Paz"



Nelson Jobim, Ministro da Defesa do Governo Lula, voltou de curta viagem ao Haiti e comovido diante da tragédia anunciou a ajuda do exército brasileiro ao povo do país caribenho:
"balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral e cassetetes." (Folha OnLine, 15/01/2010)

Mas porque tais mantimentos serão enviados? O que o povo haitiano está precisando não é de comida, assistência médica e equipes de resguate? O Ministro de Lula justifica:
"tendo em vista a falta de água, de combustível e de alimentos", as pessoas "começarão a ficar revoltadas". (Idem)

Jobim diz com todas as letras que o papel "humanitário" e "pacificador" do exército brasileiro é o de reprimir um povo desesperado.

O Presidente Lula, por sua vez, comemora esse triste papel:
"O Brasil tem um papel muito importante no Haiti porque o Brasil, na verdade, é o país que coordena as forças militares que dão segurança ao Haiti há cinco anos, já. Nós coordenamos a Minustah (...) e, portanto, o Brasil tem um papel relevante." (Globo.com, 18/01/2010)

As tropas brasileiras são tropas de ocupação e repressão e não "de paz" e "humanitárias". Os brasileiros devem exigir o retorno das mesmas.





Tropas brasileiras vão trabalhar por segurança no Haiti, diz Jobim:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u679964.shtml

Após terremoto, Lula destaca liderança brasileira no Haiti e cobra mais de dinheiro dos países:
http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2010/01/18/apos-terremoto-lula-destaca-lideranca-brasileira-no-haiti-cobra-mais-de-dinheiro-dos-paises-915545652.asp

Haiti: a criminalização das vítimas.

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A cobertura da mídia brasileira sobre o Haiti tem sido extremamente vergonhosa. Chegam a ser desmentidos pelas próprias imagens que divulgam.

Por último tem se igualado o desesperado e famélico povo que escava entre os escombros de lojas e supermercados destruídos pelo terremoto à delinquentes. São "saqueadores" dizem os âncoras dos nossos telejornais em tom de criminalização das vítimas que lutam pela sobrevivência.

"O principal foco da ação dos saqueadores é o cruzamento da Grande Rue com a Rue de la Fontfort, onde fica o antigo Mercado de Ferro, um prédio com forma de estação de trem, cuja estrutura metálica foi arrancada de seu alicerce pelo terremoto", diz a matéria do Estadão.

Mas quem são esses elementos de alta periculosidade social? O próprio Estadão anuncia:
"Crianças, jovens, adultos, velhos, homens e mulheres vasculhavam as lojas à procura de qualquer coisa".

É óbvio que estamos diante de indivíduos que atingiram o extremo das necessidades básicas humanas, e isso nem a matéria do Estadão consegue esconder, porém o veículo não tem dúvida sobre o caráter dessas pessoas: são "saqueadores" e ponto.

O vídeo acima, disponível no YouTuBe, mostra a repressão da Polícia local aos "saqueadores" para o alívio dos nossos angustiados jornalistas.



Sem controle, saqueadores tomam conta no Haiti:
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,sem-controle-saqueadores-tomam-conta-no-haiti,498013,0.htm

domingo, 17 de janeiro de 2010

O delírio do General e a denúncia do Advogado


"A missão não faz nada de humanitário. (...) É só uma força de intervenção militar" (Bussinger)

O esforço do comandante brasileiro no Haiti, General Floriano Peixoto, de apresentar um cenário paradisiáco da Missão de "Paz" contrasta com o relatório do conselheiro da OAB, advogado Aderson Bussinger, que em 2007 elaborou um trabalho denunciando a repressão empregada pela Minustah em conjunto com a Polícia local às mobilizações populares.

O relatório do advogado, que esteve no país caribenho em junho daquele ano, também desmente o "progresso" levado pela ONU ao país:
"Durante o encontro, Bussinger perguntou qual o trabalho social que a Minustah estava fazendo e Santos Cruz teria dito 'que eles tinham tentado cavar alguns poços de água'" diz a matéria da BBC na época.[*]

O trabalho de Bussinger conseguiu amplificar o que já vinham denunciando organizações sindicais, estudantis e outros movimentos sociais. Porém a repressão ao povo não cessou nos anos seguintes e inclusive segue prioritária nos planos dos comandantes da Minustah:
"Não espero e não admito decréscimo na segurança (...) Vamos intensificar (o trabalho), prevenir e, se preciso for, reprimir", alerta o General Peixoto que ainda comemora o modelo de "segurança" aplicado pela ONU no país. [**]

As palavras do comandante brasileiro e o anúncio de que a tarefa das tropas brasileiras será a de fazer a "segurança" corroboram as conclusões do advogado da OAB há pouco mais de dois anos:
"(...) a missão da ONU não tem nada de humanitária. É uma missão de muita violência e agressão."[*]

A proposta de Bussinger, que defendia o retorno dos soldados brasileiros, segue cada vez mais atual:
"O que o Haiti precisa é de presença humanitária, de apoio de médicos e professores, e não de uma intervenção militar"[*]



[*] Tropas do Brasil 'validam abusos no Haiti', diz enviado da OAB:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/09/070903_haitistockebc.shtml

[**] Haiti vivia momento de desenvolvimento antes do tremor, diz comandante brasileiro:
http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2010/01/17/haiti+vivia+momento+de+desenvolvimento+antes+do+tremor+diz+comandante+brasileiro+9337091.html

sábado, 16 de janeiro de 2010

O que a ONU faz no Haiti?

Minustah mandou médicos e enfermeiros abandonarem pacientes em hospital.

A tragédia no Haiti está revelando qual é o verdadeiro caráter "humanitário" da "missão de paz" coordenada pela ONU e pelo Brasil no país.
Jornalistas e estrangeiros presentes no país têm relatado com cada vez mais frequência a inércia dos capacetes azuis e o abandono da população que têm tido que se virar por conta própria:
"As pessoas aguardam ajuda, tentam ajudar-se umas as outras, é um verdadeiro exemplo de civismo. Mas também há um clima de desolação e de abandono. Muitos dizem que o Haiti acabou, que não têm ajuda, que estão sós. E reclamam que o governo não faz nada para ajudar", é o que observou o capoeirista brasileiro Flavio Saudade. [1]

Na sequência o desejo de socorro exprimido por Flavio é ainda mais revelador quanto ao estado de abandono da população:
"Queria ver uma ação concreta das organizações de ajuda. Ver as equipes nas ruas e a população sendo atendida. Isso vem acontecendo de forma precária, através das ONGs que já atuavam aqui." [2]

Na mesma linha do capoeirista brasileiro vai o fotógrafo da revista Time, Shaul Schwarz: "(...) as pessoas estão cansadas de não receber ajuda", refere-se ele aos protestos iniciados pela população do país. [3]

Se nesse momento a omissão daqueles que estão no Haiti desde 2004 com a desculpa de fins "humanitários" já é de se estranhar, o que dizer do ocorrido na última sexta-feira quando médicos e enfermeiros foram obrigados pela Minustah a deixar seus pacientes a própria sorte em um hospital?
É isso mesmo: "funcionários das Nações Unidas ordenaram a evacuação do lugar por motivos de segurança." [4]

Depois de alardear aos quatro ventos que a situação no país estava sob controle, a ONU, ao invés de garantir a segurança do local e dos profissionais que nele estavam, resolve mandar embora, contra o desejo dos mesmos, médicos e enfermeiros que cuidavam da população enferma.
"Nunca estive numa situação dessas. Isso é completamente ridículo", esbraveja com razão o correspondente-chefe da CNN, Sanjay Gupta, que foi o único médico a ficar com os pacientes. De acordo com ele, dada a situação criada pela absurda ordem da ONU, muitos podem não resistir e falecer até a manhã de sábado:
"O que é impressionante para mim como médico é que pacientes que recém tinham passado por cirurgia, pacientes que estão em estado grave, estão sendo deixados sozinhos, sem ninguém para se importar com eles." [5]

"Nunca tinha visto algo assim antes na minha vida", espantasse Russel Honoré, tenente-general americano aposentado que atuou na tragédia do Katrina, e que não perdoa a evacuação médica ordenada pela Minustah: "Acho isso assombroso, esses médicos terem partido." [6]

Parece que a assistência predileta da ONU aos necessitados haitianos seja a dos fuzis. Desde 2004 quando ocupa o país é dessa forma que eles têm tratado os protestos pacíficos da população local por melhoria de suas condições de vida, o que tem aumentado a hostilidade contra as tropas da ONU.
Não foi por acaso que o cabo Carlos Pimentel de Almeida, que se feriu na tragédia, desembarcou no Brasil dizendo ter pensado que o terremoto tinha sido um atentado contra as tropas da ONU. [7]

A tragédia tem gerado novos protestos da população local por pedidos de socorro. A resposta "humanitária" da Minustah, comandada pelo Brasil, tem sido a omissão e a até a negação de socorro (como no absurdo caso dos médicos relatado acima), além de já estarem preparando mais repressão à um povo desesperado. [8]




[1, 2] 'Há um clima de desolação e de abandono nas ruas', diz capoeirista que trabalha no Haiti 15/01 às 21h47 Ângela Góes:
http://moglobo.globo.com/integra.asp?txtUrl=/mundo/mat/2010/01/15/ha-um-clima-de-desolacao-de-abandono-nas-ruas-diz-capoeirista-que-trabalha-no-haiti-915540265.asp

[3] Haitianos revoltados bloqueiam estradas com corpos, diz testemunha:
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1448190-5602,00.html

[4-6] Médicos abandonam pacientes em hospital improvisado no Haiti devido a alerta de segurança:
http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2010/01/16/medicos-abandonam-pacientes-em-hospital-improvisado-no-haiti-devido-alerta-de-seguranca-915541466.asp

[7] ‘Pensei que fosse um atentado’, diz militar brasileiro que ficou ferido no Haiti:
http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL1449152-5605,00.html

[8] Brasil vai mandar armas não letais para evitar violência no Haiti:
http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/terremotonohaiti/conteudo.phtml?tl=1&id=964144&tit=Brasil-vai-mandar-armas-nao-letais-para-evitar-violencia-no-Haiti
http://www.bemparana.com.br/index.php?n=132868&t=brasil-vai-mandar-armas-nao-letais-para-evitar-violencia-no-haiti

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Como o Brasil foi parar no Haiti?

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O terremoto que devastou o pobre Haiti e fez uma série de vítimas acabou colocando o país caribenho em evidência. Como o Brasil lidera as tropas da ONU no país e, entre as vítimas há brasileiros (como a médica Zilda Arns), a mídia tem dado ampla cobertura da tragédia.

Porém saltam aos olhos algumas omissões na cobertura midiática. Não se diz como e porque o Brasil foi parar no país caribenho. O que é meramente transmitido a opinião pública é de que estaríamos em uma "missão de paz" ajudando uma nação pauperizada.

Não se diz que tudo começou em 2004 quando tropas americanas e francesas invadiram o Haiti e depuseram à força o seu presidente, Jean Bertrand Aristide.
Não se diz que os EUA pediram ajuda à ONU para poder deslocar o seu contingente militar para o Iraque, onde estavam atolados na época.
Em resumo não se diz que o Brasil, ao aceitar chefiar a "terceirização" da invasão do Haiti, está a dar sequência à um golpe de Estado.

Quanto ao suposto pacifismo da missão da ONU no país não passa de um rótulo falacioso. As tropas brasileiras têm colaborado com a polícia local na repressão das manifestações populares.
Foi assim em 22 de dezembro de 2006 quando várias pessoas foram assassinadas pelos capacetes azuis em protesto que pedia a volta do presidente Aristide.
Foi assim em 2008 quando pelo menos 5 pessoas foram assassinadas pelas tropas de "pacificação" em protesto contra a alta dos alimentos.
Foi assim no mesmo ano quando estudantes e sindicalistas, que iniciaram um protesto em defesa do aumento do parco salário mínimo local, foram duramente reprimidos pela Minustah. Pelo menos uma pessoa morreu.
Foi assim em 18 de junho de 2009 quando no enterro de um dirigente político as tropas da ONU dispararam covardemente contra a multidão que acompanhava o velório. Várias pessoas ficaram feridas e pelo menos uma morreu.
Não é por acaso que vários haitianos têm pedido a saída das tropas da ONU do seu país.

A mídia tem ocultado tudo isso dos brasileiros e busca nos fazer crer de que a presença de nossas tropas lá é benéfica para o país caribenho pois estamos reconstruindo o mesmo (tsc!). Outra falácia!
Dos 1.310 integrantes da delegação brasileira apenas 50 são civis. O resto são militares, que como exposto anteriormente, têm servido para reprimir o povo.

Com a tragédia a mídia busca fortalecer o discurso do papel humanitário das tropas brasileiras no país. De novo a realidade dos fatos aponta em outra direção.
Tão atuante para reprimir o povo as tropas da ONU sumiram das ruas após a tragédia, como denunciam estudantes brasileiros da Unicamp que encontram-se no país:
"A situação está se complicando: saindo às ruas em busca de água, o pessoal viu muitas pessoas feridas na rua, mortas, casas desabadas e pessoas retirando os escombros, além de briga por comida, saques, um tiroteio, e o pior, aparentemente, tudo isso sem a presença de nenhum tanque, carro ou oficial da ONU nesses primeiros momentos de pavor a população. Apenas soubemos que as tropas estavam removendo os escombros do Hotel Montana, um dos hotéis da alta classe, onde deveria estar personalidades da ONU." (http://lacitadelle.wordpress.com/)

No Jornal da Globo de 14/01/2010 o relato da jornalista Lília Teles mostrou que o General brasileiro está mais preocupado com a crescente hostilidade dos haitianos às tropas de ocupação do que em socorrer a população.

Os brasileiros devem tomar conhecimento do que está de fato a ocorrer no Haiti. Devem exigir do Governo Lula que traga de volta os soldados brasileiros e que converta os recursos gastos nas tropas de ocupação em reais recursos de ajuda humanitária.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Lula & FHC: até as justificativas para privatizar são iguais!

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Uma das justificativas utilizadas por Fernando Henrique para realizar suas privatizações nos anos 90 - e que era repetida exaustivamente pelos defensores das mesmas - era de que ao passar os serviços outrora públicos para a iniciativa privada sobraria mais recursos para o Estado investir em outras áreas.

Também se dizia que o Estado deveria repassar serviços para a iniciativa privada porque ele tinha perdido a sua capacidade de investimento.

O que se viu na sequência foi o Estado investindo na infra-estrutura das empresas antes de privatizá-las, emprestando dinheiro do BNDES para os capitalistas comprarem as estatais (sendo que alguns não devolveram o dinheiro até hoje) e ainda concedendo mais empréstimos para os empresários investirem!

O Governo Lula criou as "Parcerias-Público-Privadas" que é uma forma enrustida de privatização utilizando as mesmas justificativas do seu antecessor (como demonstra o quadro acima extraído de um slide do BNDES¹).

E assim como seu antecessor o Governo Lula não destina os "escassos" recursos do Estado para outras áreas, mas pelo contrário, os entrega para o empresariado, financiando mais da metade dos investimentos privados nos serviços privatizados.²


1 - "BNDES: PPPs & Infra-estrutura" (Slide, p.12):
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/empresa/download/apresentacoes/fiocca_ppps.pdf

2 - "BNDES pode financiar até 70% dos gastos da OHL nos trechos arrematados" (Folha OnLine, 12/10/2007):
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u336203.shtml

sábado, 2 de janeiro de 2010

Porque Lula "é o cara"!

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Em abril deste ano o Presidente Lula foi chamado de "o cara" por Barack Obama em encontro do G20 em Londres. [1]
Logo em seguida o tablóide inglês The Economist e a revista conservadora alemã Der Spiegel fizeram matérias ufanistas sobre o Brasil e a administração do "operário" brasileiro.
Na sequência foi a vez do primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, se desmanchar em elogios ao presidente brasileiro chegando ao ponto de apontá-lo como "honesto, íntegro, voluntarioso e admirável". [2]
Por fim o jornal francês Le Monde aclamou Lula como "o homem do ano de 2009" [3] e o Financial Times o incluiu em uma lista dos mais influentes do mundo.

Na esteira da bajulação internacional o governo brasileiro tem difundido uma massiva publicidade no sentido de apontar o Brasil como um país em ascensão e de futuro próspero.
A classe dominante brasileira, por sua vez, se engajou nessa campanha como evidenciam os comerciais de final de ano da Vale e até da RBS (sucursal da Rede Globo no Rio Grande do Sul) que afirma ser este o país que eles "sempre acreditaram". [4]
Mas que país é este que as classes dominantes nacionais e internacionais "sempre acreditaram"? Por que Lula tem sido tão bajulado pelas classes dominantes globais?
Para obter tais respostas é preciso analisar a política interna e externa do seu governo.

Política interna

Eleito em 2002, depois de três tentativas frustradas, Lula finalmente foi conduzido à presidência com grande entusiasmo e esperança de amplos setores da população que viram em sua candidatura a possibilidade de reversão da política neoliberal que grassou no país desde o início dos anos 90.
Porém, poucos dias após ter recebido a faixa (ainda em janeiro), Lula mostrou que seu governo não só não reverteria o modelo neoliberal como o aprofundaria: anunciou a Reforma da Previdência que Fernando Henrique quis fazer mas não conseguiu.
Ficava claro que além da política econômica neoliberal seria mantida a política de reformas pró-mercado.

Seguiram-se os leilões das bacias petrolíferas iniciados por FHC; foi criada uma forma enrustida de privatização chamada de "Parcerias-Público-Privadas"; os bancos federalizados do Maranhão [5] e do Ceará [6] foram entregues ao Bradesco; foi elaborada a Lei de Gestão das Florestas Públicas que legalizou a grilagem e a privatização de terras na Amazônia (episódio que na época desgastou a então Ministra Marina Silva [7]).

No campo, além da ausência de Reforma Agrária, quatro meses após assumir a presidência Lula assinou a MP 113 autorizando a comercialização de sojas transgênicas oriundas de sementes contrabandeadas da Argentina. Em 2004 editou a MP 131 autorizando a plantação e comercialização dos transgênicos.
Por fim, em 2005, foi aprovada a Lei de Biossegurança, cujo responsável pela elaboração do decreto foi o subchefe-adjunto para assuntos jurídicos da Casa Civil, Beto Ferreira Martins Vasconcelos, que foi advogado da Monsanto. (Folha de São Paulo, 24/11/2005)

Os banqueiros enfileiraram, ano após ano, recordes de lucros no Governo Lula, faturando - e muito - com ou sem crescimento econômico.
A propalada extinção da dívida externa não passou de propaganda enganosa. Na prática a dívida externa foi trocada pela interna, que é mais cara. Enquanto anunciava ter zerado a dívida com o FMI o governo emitia títulos da dívida externa com taxas de juros que chegavam a quase 13% (valor similar ao da dívida interna), ou seja, mais caros para o país mas mais rentáveis para o capital especulativo internacional. [8]
Os gastos com a dívida pública não cessaram de aumentar no governo Lula. A farra do capital financeiro foi mantida e aprofundada. Até a Lei de Falências aprovada para as empresas beneficou os bancos ao colocá-los na frente da fila de recebimento de créditos, prejudicando os trabalhadores.
Por tudo isso que a Febraban declarou, em 2006, que para eles era indiferente quem seria o vencedor da eleição, se Lula ou Alckmin.

Em 2005 estourou o escândalo do mensalão que demonstrou que além da política econômica e de reformas o PT ainda havia dado sequência à corrupção dos seus antecessores.
Os tucanos, que até então enfrentavam dificulades de fazer oposição ao governo (já que este administrava com o programa de FHC), apostaram no sangramento do governo até as eleições. Porém a corrupção revelada atingiu a praticamente todos os partidos, inclusive o PSDB.
A estratégia da direita fracassou estrondosamente e no ano seguinte, depois de fugir dos debates no primeiro turno, Lula apareceu no segundo turno como o "candidato anti-privatização" e dessa forma derrotou o tucano Geraldo Alckmin se reelegendo.

Um ano após posar de "anti-privatista" Lula anunciou a privatização de 3260 quilômetros de rodovias federais, quase o quadruplo do que privatizou Fernando Henrique [9]. A maior beneficiada foi a espanhola OHL que ficou com a maioria das estradas brasileiras. O BNDES, que já liberou recursos para as empresas vencedoras dos leilões, poderá responder por até 70% dos recursos investidos pelos capitalistas nas estradas brasileiras. [10]
Outrora o candidato "anti-privatização" Lula terminou por comemorar o seu entreguismo:
"Hoje, eu não sei por quê, acordei com uma premonição de que as coisas iam ser muito boas para o Brasil. O dia foi bom, porque, depois de vencer todas as barreiras legais, todos os casos criados, finalmente tivemos o leilão." [11]

A ousada privatização das rodovias não foi um fato isolado. A intenção do governo é privatizar quase toda a infra-estrutura: ferrovias, portos, aeroportos e hidrelétricas. A Ferrovia Norte–Sul já foi entregue à Vale. A Hidrelétrica Jirau à Suez e a Camargo Correa. Odebrecht e Furnas ficaram com a Hidrelétrica Santo Antônio.
Essa privatização a toque de caixa faz parte do badalado Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) apresentado como uma forma de intervenção maior do Estado na economia (tsc!) e será aprofundada com a desculpa da vinda da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos.

Lula seguiu omisso na Reforma Agrária tendo assentado menos famílias do que Fernando Henrique. Seus novos heróis do campo são os usineiros[12] e para ele os sem-terras são vândalos. [13]
Lula facilitou mais ainda as coisas para o latifúndio ao mudar o quorum de votos para a liberação dos transgênicos na CTNBio de 2/3 para maioria simples. [14]
Aprofundando o entreguismo da Amazônia foi criado o "Fundo Amazônia" que permite aos estrangeiros fazerem "doações" para "preservar" a Floresta. [15]

Os escândalos de corrupção não cessaram e vimos o "honesto" e "íntegro" Lula defendendo seus novos aliados Sarney e Collor.

Mas e o social? E a transferência de riquezas? A maioria da população não está na classe média? Essa é outra assertativa que quando melhor observada se mostra falaciosa.
De acordo com os dados do governo deixam de ser considerados pobres "pessoas em famílias com renda mensal per capita de até meio salário mínimo". [16]
O Doutor em Economia, Adriano Benayon, não vacila diante da propaganda governista:
"Alardeou-se, ainda, uma suposta diminuição da pobreza, abrangendo também os da faixa de um salário mínimo. Conforme esses dados, de 42,82% em abril de 2002, o percentual de "miseráveis" e "remediados" (classes D e E ), desceu para 32,59% em abril de 2008.
Ora, houve mais pontos percentuais (10,9) na redução do número de indivíduos com "renda" inferior a meio salário mínimo do que os pontos de queda (10,2) no conjunto de famílias que inclui também a classe D. Em suma, é uma falácia dizer que houve redução da pobreza." (Benayon, "Falácias sobre as classes de renda")

Por outro lado o balanço de 2009 do BNDES não deixa dúvidas de que tipo de transferência de riqueza faz o Governo Lula: dos 137,3 bilhões desembolsados pelo banco nesse ano apenas 16,52 bilhões (12,03%) foram destinados as pequenas e micros empresas. [17]
O Orçamento de 2010 da União também aponta quem serão os principais beneficiados: entre juros e amortizações da dívida pública o capital especulativo abocanhará 49,9% do orçamento. [18]

Portanto no plano interno o Governo Lula manteve e aprofundou a política econômica neoliberal do seu antecessor e implementou medidas privatizantes reivindicadas pelas classes dominantes garantindo os interesses do capital nacional e internacional. Foi um ato de "sabedoria" comemora a Financial Times [19]. Por isso ele "é o cara"!

Política externa

Aqui é preciso redobrar o cuidado na análise pois as aparências podem enganar até porque Lula mantém relações com governos progressistas na América Latina.
Mas o papel cumprido pelo presidente brasileiro é de uma espécie de gerente que resguarda os interesses do imperialismo na região, um bombeiro que busca apagar a "chama" dos processos latinos mais radicalizados tentando domesticá-los.

Foi assim quando Lula criou o "Grupo de 'Amigos' da Venezuela" com os países que apoiaram o golpe de Estado de 2002 contra Hugo Chávez.
Foi assim quando Lula enviou um helicóptero para resgatar o ex-presidente equatoriano Lúcio Gutierrez, derrubado por uma insurreição popular por trair os compromissos de campanha assumidos com o povo, e que no momento do resgate estava com a sua casa cercada por manifestantes.
Foi assim quando, ao invés de condenar as bases do imperialismo na Colômbia que visam vigiar de perto os processos na América do Sul [20], Lula evitou que a Unasul condenasse as mesmas conforme desejava o imperialismo. [21]
Não foi por acaso que Lula recebeu em Londres, no mês de novembro, o prêmio Chatham House 2009 por ser o "motor-chave da estabilidade e da integração na América Latina". [22]

Na colaboração com o imperialismo o Governo Lula não hesitou nem em pegar em armas o que contrasta com o aparente - e enganoso - quadro de pacifismo frequentemente pintado.
Em 2004 tropas americanas e francesas invadiram o Haiti e depuseram à força o presidente Jean-Bertrand Aristide. Então atolado no Iraque, George Bush solicita ajuda da ONU e do Brasil para dar sequência ao serviço sujo. O Brasil aceitou chefiar a "terceirização" da ocupação a qual mantém até hoje.
A presença da ONU no país caribenho possibilitou aos Estados Unidos, na época, enviarem para o Iraque o seu contingente militar estacionado ali.

Na política externa Lula ainda conseguiu ampliar os interesses do empresariado brasileiro como quando "perdoou" os US$ 36 milhões da dívida com o Gabão em troca de o país africano aceitar que o valor fosse convertido em isenções fiscais para os capitalistas brasileiros. (O Estado de São Paulo, 29/07/2004)
O "perdão" de mais da metade da dívida com a Nigéria muito longe de ser uma atitude caridosa respondeu a uma necessidade de comércio pois a sua existência era um entrave para a atividade comercial entre os dois países. (O Estado de São Paulo, 09/09/05)
Furnas, Odebrecht, Vale, Camargo Correa e Andrade Gutierrez são algumas das empresas brasileiras que mais possuem investimentos na África e graças a política "caridosa" de Lula estão ampliando seus negócios no continente.
Essas mesmas empresas mais a Queiroz Galvão, a OAS, a Carioca e a EIT são as organizações convocadas a realizar as obras nos países que o Brasil disponibiliza recursos do BNDES. É isso mesmo: os países que tomam recursos emprestados do BNDES não podem utilizar suas próprias empresas! E ainda os equipamentos para a realização do trabalho devem ser importados do Brasil! Trata-se de uma verdadeira política subimperialista que forra os bolsos do empresariado brasileiro. Muito bonzinho esse Lula...

A bajulação imperialista a Lula se alicerça em dois motivos: o primeiro e mais óbvio diz respeito a colaboração direta do mesmo com os interesses do imperialismo e do capital internacional.
O segundo é que ao apresentá-lo como "exemplo" fazem uma espécie de "contraponto" aos processos radicalizados que se chocam com os seus interesses.
Não foi por acaso que entre as "previsões" da segunda revista semanal mais importante dos Estados Unidos, a Newsweek, a Venezuela aparece com um futuro sombrio [23] ao passo que o Brasil é mostrado em um cenário paradisiaco. [24]

É por tudo isso que Lula é considerado "o cara" pelo imperialismo!




[1] Lula 'é o cara', diz Obama durante reunião do G20, em Londres (02/04/09 - 11h53):
http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL1070378-9356,00.html

[2] 'Lula assombra o mundo', elogia Zapatero em jornal (11/12/2009 - 01:00):
http://br.noticias.yahoo.com/s/11122009/25/politica-lula-assombra-mundo-elogia-zapatero.html

[3] Le Monde (24/12/2009):
http://www.lemonde.fr/opinions/article/2009/12/24/lula-l-homme-de-l-annee-2009-par-eric-fottorino_1284552_3232.html
'Le Monde' escolhe Lula como 'homem do ano 2009' (24/12/09 - 10h46):
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1425769-5602,00.html

[4] Mensagem de Fim de Ano - RBS (2009-2010):
http://www.youtube.com/watch?v=zYA8kqtJ488

[5] Bradesco compra Banco do Maranhão na primeira privatização do governo Lula (10/02/2004 - 09h49):
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u80529.shtml

[6] Bradesco compra Banco do Estado do Ceará em leilão por R$ 700 milhões (21/12/2005 - 16h30):
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u103627.shtml

[7] Lula sanciona aluguel de florestas (03/03/2006 - 09h52):
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u14314.shtml

[8] Por que o Governo Lula acelera endividamento caro e quita antecipadamente dívida bem mais barata? (Maria Lucia Fattorelli Carneiro, extraído de ANDES-SN, 17/01/2006):
http://www.adur-rj.org.br/5com/pop-up/contradicao_inexplicavel.htm

[9] Enfim, Lula privatizou... (11/10/2007 - 00:35 | Edição nº 491):
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG79551-5855,00.html
RodoBahia vence leilão da BR-324 e BR-116 na Bahia (21/01/2009):
http://www.estadao.com.br/noticias/economia,rodobahia-vence-leilao-da-br-324-e-br-116-na-bahia,310634,0.htm

[10] BNDES pode financiar até 70% dos gastos da OHL nos trechos arrematados (12/10/2007 - 09h25):
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u336203.shtml
BNDES já aplicou R$ 1,1 bilhão no programa de concessão de rodovias federais (28/08/2009 - 17:53):
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2009/08/28/materia.2009-08-28.6476213253/view

[11] Lula critica privatização de ferrovias feitas no governo FHC (10/10/2007 - 10h04):
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u335405.shtml

[12] Presidente Lula chama usineiros de heróis (20/03/2007 - 20h08):
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u90477.shtml

[13] Lula classifica como ''vandalismo'' ação do MST em fazenda da Cutrale (10/10/2009):
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091010/not_imp448774,0.php

[14] LEI Nº 11.460, DE 21 DE MARÇO DE 2007:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11460.htm

[15] "O governo Lula privatiza a Amazônia", Marco Carvalho (29/09/2008 - 16:20):
http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2008/09/29/o_governo_lula_privatiza_amazonia-548450598.asp

[16] Pobreza diminui em quase um terço nas regiões metropolitanas em 5 anos (05/08/2008 - 13h22):
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u429853.shtml

[17] BNDES; slide, p.5:
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Institucional/Sala_de_Imprensa/Galeria_Arquivos/balanco2009.ppt
BNDES encerra 2009 com desembolso recorde de R$ 137,3 bilhões (29/12/2009):
http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/Sala_de_Imprensa/Destaques_Primeira_Pagina/20091229_desemp_2009.html

[18] Ministério do Planejamento - Projeto de Lei Orçamentária 2010; slide, p.7 (01/09/09):
http://www.planejamento.gov.br/secretarias/upload/Arquivos/sof/ploa10/090901_apresentacao_ministro.pps

[19] Lula faz barba, cabelo e bigode - Blog do NOBLAT (01/01/2010 - 16:09):
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?t=lula-faz-barba-cabelo-bigode&cod_Post=254049&a=111
Financial Times inclui Lula entre 50 maiores da década (29/12/2009 - 10:30):
http://br.noticias.yahoo.com/s/29122009/25/politica-financial-times-inclui-lula-50.html

[20] Chávez é motivo para ter base na Colômbia, afirma Pentágono (02/11/2009 - 07h41):
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u646451.shtml

[21] Unasul quer reunião com EUA para discutir bases na Colômbia (10/08/2009 - 14:56):
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/08/090810_unasul_bases_fa_cq.shtml

[22] Lula recebe prêmio em Londres por papel na América Latina (04/11/2009 - 10h23):
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u647404.shtml

[23] Chávez Faces Another Coup, by Newsweek:
http://2010.newsweek.com/top-10/world-predictions/chavez-faces-another-coup.html

[24] Brazil Is the New China, by Newsweek:
http://2010.newsweek.com/top-10/world-predictions/brazil-is-the-new-china.html